Sempre que há ondas de calor, a mortalidade sobe. No Alentejo central há um projecto a começar que pretende combater essa realidade, plantando árvores nas zonas urbanas e aumentando as áreas de sombra. O objectivo é chegar às 50 mil árvores e desenvolver técnicas que as ajudem a não morrer precocemente.

Por Patrícia Carvalho

O projecto chama-se Além Risco e tem como objectivo central plantar 50 mil árvores nas zonas urbanas dos 14 municípios do Alentejo Central, contribuindo, assim, para diminuir o número de mortes associado a ondas de calor, pelo aumento das áreas de ensombramento. Mas Miguel Bastos Araújo, coordenador do projecto, lá vai dizendo que “toda a gente planta árvores” e que o que mais entusiasma na Além Risco são as ideias que estão a ser desenvolvidas para permitir que as novas árvores das cidades alentejanas sobrevivam até à idade adulta. “O desafio de plantar árvores e que estas não morram, é grande. Plantar árvores é fácil, o que é difícil é que a mortalidade seja baixa. A questão da manutenção pós-plantação nem sempre é fácil”, diz o investigador, especialista em biogeografia.

Ou seja, ao mesmo tempo que o Além Risco está a adquirir as 50 mil árvores que se hão-de espalhar, idealmente, por todos os municípios do Alentejo central, a equipa do projecto está a recuperar ou a desenvolver novas formas de garantir que árvores como as que serão plantadas, já este domingo, num jardim do Alandroal – durante o lançamento do projecto -, conseguem sobreviver. Para já, diz Miguel Bastos Araújo, estão a ser pensadas três soluções que o projecto quer que envolvam oleiros, viveiros de plantas e também instituições do ensino superior.

“Estamos a explorar uma técnica de plantação que implica que no momento em que se planta a árvore, ela tenha uma raiz de 70 centímetros de altura. É uma árvore que até pode ser pequena, mas em que a raiz é enorme e, assim, ela já tem capacidade de ir buscar água ao subsolo mais do que tradicionalmente é feito”, diz o investigador e vencedor do Prémio Pessoa em 2018. A técnica passa por fazer “tubos cheios de terra” com sacos de serapilheira. “Pomos a planta no topo, ela fica presa na serapilheira e a raiz desenvolve-se aí em profundidade. Quando plantamos é directamente com este tubo, pelo que não há estragos”, explica.

As outras duas técnicas em cima da mesa passam também por dotar as pequenas árvores de água suficiente para se poderem desenvolver, num momento em que as projecções para o Alentejo, no âmbito das alterações climáticas, apontam para ondas de calor cada vez mais prolongadas, e que podem chegar aos 17 dias em meados do século, relembra o investigador. Uma baseia-se no “resgate de uma tecnologia inventada há mais de dois mil anos”, explica Miguel Bastos Araújo. “É a técnica do ‘ollo’. Basicamente são bilhas de água em barro que são enterradas juntamente com a planta.” Enche-se a bilha e a terra ficará sempre húmida, enquanto a água existir naquele recipiente. “É uma técnica muito mais eficaz do que o gota-a-gota, porque consome menos água e esta é dada directamente à planta e não se evapora”, acrescenta.

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